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O Empresário de sucesso 

Era um empresário de sucesso. A empresa prosperava e ele ganhava bem. Tinha o seu ordenado, bem elevado mas justo, e ao fim de cada ano arrecadava os lucros do sucesso da empresa. 
Ganhava mesmo muito bem, mas era justo. Trabalhava muito e por isso merecia. Não que gastasse muito tempo na empresa. Chegava cerca da hora do almoço, mas era o último a sair. 
Antes do almoço, ainda assinava os papeis já preparados pelos chefes de secção, competentíssimos, e bem organizados pela sua secretária de toda a confiança, que verificava tudo antes do empresário assinar. Por vezes ainda tinha tempo de dar uma vista de olhos pelos jornais e pelas notícias marcadas como as mais importantes pelo seu chefe das relações públicas que acumulava as funções de assessor de imprensa. Não acumulava ordenados, esse assessor, mas a sua eficiência, permitia-lhe exercer as suas funções em simultâneo e com razoável qualidade.
O Empresário, almoçava sempre acompanhado do Director Comercial que convidava para a mesa um cliente seleccionado entre os melhores. Melhores, claro está, os que mais lucro davam à empresa, pagando com pontualidade as encomendas feitas e com um volume de compras dentro das regras do 80-20 da lei de Pareto, periodicamente confirmada pelo Director Comercial.
Durante o almoço o Empresário de sucesso, aproveitava para falar da família das suas férias, proporcionando um ambiente muito informal e até intimo o que permitia ao Director Comercial que acumulava as funções de Marketing, ir aproveitando os intervalos da bebida do bom vinho tinto velho, para sugerir novas encomendas e elogiar os novos produtos desenvolvidos pela empresa. Assim se misturavam, durante o almoço, os elogios ao vinho, as boas qualidades dos produtos da empresa e os dotes do Chefe de cozinha que era muitas vezes chamado à mesa para receber os parabéns.
Acabado o almoço, sempre em boa alegria, enquanto o empresário pagava a conta o Director Comercial dava a assinar as novas encomendas ao convidado. Satisfeitos, bem comidos e melhor bebidos, lá ia cada um para as suas funções.
O Empresário de sucesso, feliz, chegava ao gabinete e já tinha em cima da secretária um whisky velho, puro, sem gelo, terapia que auxiliava a sua digestão e prevenias males de coração.
Fazia uma pequena sesta, que a sua eficiente secretária cuidava zelosamente que não fosse interrompida durante os quinze a vinte minutos da praxe. 

Cerca das quatro da tarde, com as forças já retemperadas do esforço gastronómico, reunia rotativamente, segundo os dias da semana, com os responsáveis de cada sector da empresa, exercendo assim a sua qualidade de líder e de gestor, garantia do sucesso da sua empresa. 
Pegava na pasta preparada pela sua competente secretária com o apoio do Chefe da Secção respectiva, e dava uma vista de olhos pelos assuntos previstos para a reunião. Sorria sempre admirando a eficiência dos seus colaboradores, cientificamente seleccionados pelas mais modernas técnicas de recrutamento estudadas pelo Chefe dos recurso Humanos com o auxilio dos colaboradores respectivos. Depois de folheada a pasta punha-a à sua frente na secretária e tocava o intercomunicador dizendo que a reunião podia começar.
Entravam, então os Chefe e Subchefes, cumprimentando respeitosamente o Empresário que apontava para a mesa num gesto sempre ambíguo entre o convite para se sentarem ou para unicamente se dirigirem para a mesa das reuniões. O que é certo é que essa ambiguidade era sempre interpretada de forma a que se mantinham de pé junto a cada cadeira, esperando pelo patrão.
Então, o Empresário, mantendo o sorriso iniciado no folhear da pasta, e intensificado com os cumprimentos, pega no dossier e com ele debaixo do braço, dirige-se da sua ampla secretária para a imponente mesa oval onde fazia as reuniões. Nesse momento senta-se a secretária, o Empresário, depois o Chefe de secção e logo de seguida os subchefes.
Todos sorriem e todos interrompem o sorriso quando o Empresário inicia a reunião, cumprimentando os presentes pela segunda vez. Abre a pasta e anuncia os assuntos a tratar. Todos verificam que os assuntos que vão ser debatidos são exactamente os que eles prepararam e incluíram na primeira folha da pasta. 
O Empresário de sucesso faz perguntas, sobre a forma como estão a decorrer os trabalhos, sobre o cumprimento dos prazos e sobre a satisfação dos clientes a que cada um responde, quase que invariavelmente, que tudo corre pelo melhor dada a grande competência de todos os colaboradores, desde o mais humilde que mantém as instalações impecáveis, passando pelos operários que trabalham muito e bem, até aos chefes intermédios que dirigem os operários também com muita eficácia. Sobre as suas próprias qualidades, não são precisas referências especiais uma vez que estão demonstradas pelos resultados.
O Empresário de sucesso volta a sorrir, moderadamente e encerra a reunião, despedindo-se de todos. Todos não, pois, a sua secretária fica para lhe servir um copo de água de Evian e um outro whisky, colocando uma suave música no leitor de CDs para o reconfortar do cansaço da sua jornada de trabalho.
O Empresário não resiste a pegar na mão da secretária e com ela fica uns momentos a descansar. Sonha, acordado, continuando a sorrir, pensando como é feliz e merecedor do muito que ganha por gerir tão bem uma empresa de tão grande dimensão.